Em “Até o último homem”, que estreia nesta quinta-feira (26), o diretor e ex-galã mostra repetidamente que morre de orgulho dessas crenças e preferências. Incomoda? Sim. Então significa que o povo da Academia de Hollywood estava bem louco ao dar seis indicações no Oscar 2017, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator
“Até o último homem” reprime suas imperfeições (não são poucas, a começar por um americanismo reiterado a ponto de provocar náusea). É um requintado banquete visual para quem ama sadicamente filmes de conflitos bélicos em que vísceras e hemoglobinas são tão explícitos que mereciam aparecer já nos créditos de abertura, antes dos nomes dos coadjuvantes.
Mas o que fica, sobretudo, é um bom filme, executado e narrado à moda antiga e com obediência fiel e extrema ao realismo. O Mel Gibson confia tanto em Deus quanto na narrativa clássica. As cenas de conflito (estamos em Okinawa, na 2ª Guerra Mundial) são muito, mas muito bem filmadas, câmera na mão, tensão interminável, suspense. E sangue, sangue, sangue.
O filme
Resumo da ópera (spoilers discretos): Desmond Doss é um jovem humilde do interior, quase mais religioso que a própria religião, que uma hora acha certo ir à guerra com o único propósito de salvar vidas (americanas, bem dizer). Sim, tudo baseado em história real (e improvável, absurda).
O drama deste adorável e franzino pacifista é um só: irracionalmente fiel ao mandamento “não matarás”, Desmond tem alergia a fuzis. É sério – pegar em arma nem pensar. Azar o dele? “Não”, dirão seus sensatos colegas e superiores no exército. “Azar o nosso, porque este anjinho covarde e insano, afinal, vai refugar quando mais precisarmos dele.” Inocentes incrédulos...
Agora, resumo do criador da ópera: “Até o último homem” marca, sim, meio que a ressurreição (paralelo com a vida de Jesus Cristo: feito) do cineasta. Mel Gibson não lançava nada desde “Apocalypto” (2006). E uns anos atrás ainda deu para beber, fez comentários antissemitas, racistas e machistas. Todo errado.